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Vovô está namorando e mamãe quer casar

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Estamos vivendo mais, com qualidade e desafiando padrões que nem se cogitava. Um deles é o de que os viúvos deveriam permanecer nesse estado civil até morrer.

Deveriam por quê? Ora! Porque para os filhos e os netos, os viúvos de 60, 70, 80 anos ou mais têm as propriedades da água: incolores, insípidos, inodoros e assexuados. Nem pensar que possam tocar na mamãe, no papai, muito menos nos avós. Beijo na boca é coisa de outro mundo.

Como o novo velho descobriu que pode viver mais de 100 anos, também pode fazer esta estrada com companhia, parceria e cúmplice que os ajude a ver que outra vida é possível, que não são condenados a viver a "angústia do domingo" quando todos saem, no máximo almoçam com eles, e se vão deixando sua casa desorganizada, pia com montanha de louça, armários e gavetas remexidos, e levando grana para o shopping, sem convidarem-nos para o passeio.

Nesta semana, encontrei quatro pessoas que me fizeram pensar nos filhos e netos que interferem na vida afetiva dos pais e avós. Uma foi Luiza, que comprava lençóis e me pediu ajuda para optar entre o floral e o de borboleta. Estava animada e me confidenciou do alto dos 92 anos: estou namorando, ele é mais jovem, tem 74, quero coisa bonita.

Outro foi Léo, estava com a namorada que conhecera no pilates. Conversavam, tomavam café, se visitavam, faziam mercado e feira, iam à missa, hoje se ajudam nos imprevistos domésticos e namoram.

Vi, também, o Pepê. Com seus 80 e alguns, conheceu a parceira num remate, considera que tem "namoro firme" com Elisa de 68. Cada um mora na sua casa, viajam, passeiam, dormem muito um na casa do outro, são amigos de chimarrão e bate-papo de entardecer, vão a restaurante, redescobriram o cinema, e o amor.

Nina, uma viúva apessoada, foi a quarta. Encontrei-a no consultório do ginecologista. Está com 78, o namorado tem 79 e na sua cabeça vai de vento em popa, mas seus filhos e netos arranjam desculpa e evento familiar na hora dos seus encontros, para fazer com que não se vejam ou posterguem o combinado.

Os quatro ouviram que os familiares apóiam o namoro, que é legal ter parceria, que rejuvenesceram, que estão bem humorados, mais bonitos, cuidados e elegantes, mas jogam discretamente que a falecida mãe está viva, que ninguém sentará na cadeira do papai, que as cinzas da vó estão na propriedade e não podem ser profanadas pela presença de outra mulher, que o carro não pode ser usado porque foi do vô, que as roupas não saem do armário porque materializam a presença do defunto, que na cama não cabe outro pois a energia do pai ou da mãe ainda está lá, etc.

Se a vida dura o tempo dos projetos, se o vínculo afetivo qualifica e tempera o existir, por que o namoro deve ser só para jovem e adulto?

Caro leitor, já te imaginaste viúvo e envelhecendo só?

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